Diálogos inéditos entre operadores do sistema elétrico revelam
o despreparo das subestações e dos centros de controle para enfrentar
interrupções no fornecimento. As transcrições constam dos relatórios da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema (ONS),
obtidos pelo jornal O Estado de S.Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação e
publicados.
Elas mostram o "sufoco" dos técnicos durante o apagão de
fevereiro do ano passado, que deixou oito Estados do Nordeste sem luz por horas.
À época, o governo Dilma Rousseff atribuiu o apagão a um defeito ocorrido em uma
placa eletrônica.
Nos minutos seguintes ao blecaute, os técnicos batiam cabeça.
Faltou energia para abrir um portão e assim conseguir religar alguns
equipamentos. Foi preciso quebrar a fechadura, atrasando a solução.
A subestação desconhecia como proceder e foi preciso ir atrás
do manual de instruções em cima da hora. "É porque a gente tem que pegar o guia
aqui porque não tem como acessar, aí estamos pegando o guia do normativo aqui e
vamos fazer com ele", completa.
Quando o abastecimento de todo o Nordeste dependia apenas da
abertura de uma chave, como previa o guia de operações, os técnicos envolvidos
discutiam se, em vez de abrir como previa o rito normal, não era melhor fechar
essa mesma chave. "Tá dependendo tudo, tem risco até de inundação na usina IV,
tem que fechar", respondeu o Centro de Operações.
"Funciona não"
Duas horas depois de iniciado o apagão, o Centro Regional de
Operações (Crop) da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) questionou
o técnico da subestação de Sobradinho se lá havia um equipamento chamado mesa de
sincronismo. "Funciona não... Vou chamar um rapaz para ver se liga ela, muitos
anos sem ligar, viu, chamo você depois", foi a resposta.
O relatório da Aneel lista as irregularidades. Além do portão
travado, aparelhos fora de operação, disjuntores fechados, discrepâncias no
sistema de supervisão e controle e dificuldade de acesso aos procedimentos
operacionais para a recomposição da instalação.
A placa que apresentou defeito dando origem ao apagão deveria
ter sido substituída quatro anos antes, informam os relatórios. Responsável pela
fiscalização das concessionárias, a Aneel não verificou se o equipamento fora
efetivamente trocado. Tampouco sabia que duas usinas não tinham a máquina para
religamento automático, para casos como aquele. Ao final, coube à agência
reguladora pôr no papel o relato de uma sucessão de problemas facilmente
evitáveis. Os erros renderam à Chesf uma multa de R$ 32 milhões.
Proteção
Segundo os documentos liberados pela Aneel, a "perturbação" no
Sistema Interligado Nacional começou às 0h08 do dia 4 de fevereiro de 2011,
quando o sistema de proteção desligou automaticamente a linha de transmissão
(LT) entre as subestações de Luiz Gonzaga e Sobradinho. O caso teria se
encerrado aí, "caso a falha descrita não fosse acompanhada de procedimentos
inadequados de operação das equipes de tempo real da Chesf."
Mesmo depois de tomar as medidas necessárias e religar a linha
de transmissão, a energia não voltou. Segundo a Aneel, as equipes
"disponibilizaram a LT 500 kV Luiz Gonzaga-Sobradinho, sem no entanto retirar o
bloqueio da linha, impossibilitando a reintegração da linha à operação,
atrasando o restabelecimento do sistema". As informações são do jornal O Estado
de S.Paulo.
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