quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MPF denuncia reitor da UFRJ por desvio de R$ 50 milhões


Carlos Antonio Levi da Conceição diz que procuradores interpretaram 'erroneamente' gestão de recursos feita pela universidade

Lecticia Maggi
UFRJ Praia Vermelha
Vista aérea do campus da Praia Vermelha da UFRJ
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Antonio Levi da Conceição, três servidores da instituição e o presidente da Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB), Raymundo de Oliveira, pelo desvio de mais de 50 milhões de reais entre 2005 e 2011. Eles são acusados de formação de quadrilha, peculato (aproveitamento da função pública para a realização de crimes) e dispensa de licitação.
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De acordo com a procuradora da República Neide Cardoso de Oliveira, responsável por oferecer a denúncia à Justiça Federal, os desvios ocorreram em dois convênios e um contrato firmados entre a UFRJ e o Banco do Brasil, totalizando 52,8 milhões de reais. Os acordos para prestação de serviços bancários à instituição foram realizados sem licitação, que é obrigatória por lei.
"A alegação da UFRJ é de que o Banco do Brasil é estatal e, por isso, não precisaria passar por licitação, mas é um argumento infundado. O banco é uma entidade privada e não pode ser beneficiada, tem que concorrer normalmente com os demais bancos. O gestor de uma universidade pública não pode fazer isso”, afirma a procuradora ao site de VEJA. Em novembro, o MPF no Rio de Janeiro solicitou à Justiça o afastamento liminar de Carlos Levi do cargo.
Segundo a procuradora, os recursos públicos desviados entre 2005 e 2011 deveriam ter sido repassados ao caixa da UFRJ e registrados no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), o que não aconteceu. "A Fundação Universitária José Bonifácio emprestou sua conta corrente privada à UFRJ para que fossem realizados os depósitos. Se não fosse a denúncia de um professor da universidade à PF, não saberíamos sequer da existência desse dinheiro", explica.
O inquérito policial para apurar os desvios na instituição foi instaurado pela PF em 2008. O reitor da UFRJ à época, Aloísio Teixeira, e o então chefe de gabinete da reitoria, João Eduardo do Nascimento Fonseca, teriam utilizado os contratos com o Banco do Brasil para favorecer parentes e amigos na prestação de serviços e nomeação para cargos comissionados. Carlos Levi teria participado do esquema na função que exercia à época, de pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento da UFRJ.
Além do reitor, do chefe de gabinete e do presidente da FUJB, foram denunciados criminalmente o coordenador do setor de convênios e relações internacionais da UFRJ, Geraldo Luiz dos Reis Nunes, e o secretário-geral da FUJB, Luiz Martins de Melo. O ex-reitor, Aloísio Teixeira, não foi incluído, pois morreu em julho deste ano.
Por meio da assessoria de imprensa da UFRJ, o reitor divulgou nota em que afirma que a "gestão de recursos externos à UFRJ tem sido interpretada erroneamente pelo MPF como desvio de recursos públicos para instituição privada". "A UFRJ já divulgou amplamente a aplicação dos mais de 50 milhões de reais, integralmente utilizados em interesse da universidade em obras, reformas de unidades, cerca de mil eventos acadêmicos e divulgação institucional", alega o reitor. Segundo ele, o contrato foi firmado com parecer favorável da Procuradoria Federal da Advocacia Geral da União. "Estamos seguros de que a Justiça irá considerar nossos argumentos e aguardamos confiantes o desenrolar desse caso, que interessa não só à UFRJ, mas a todas as instituições federais que têm nas fundações um mecanismo para dar maior agilidade à gestão de recursos", afirma. 

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